Criptomoedas e geopolítica: a reação do Bitcoin às novas conversas de EUA e China

Retomada das negociações EUA e China agita Bitcoin, que oscila entre US$ 104k e US$ 106k. Volatilidade e desconfiança persistem, mas BTC mantém suporte em US$ 100k, com interesse institucional crescendo em ETFs.
Retomada do diálogo comercial entre EUA e China: um aceno de Trump e a volatilidade do Bitcoin
Em um desenvolvimento crucial que reverberou nos mercados globais, as delegações da China e dos Estados Unidos estão se preparando para retomar as negociações em um esforço para encontrar uma solução para suas persistentes disputas comerciais. A confirmação veio diretamente do presidente Donald Trump na quinta-feira, após uma conversa que ele descreveu como “positiva” com seu homólogo chinês, Xi Jinping.
A notícia, divulgada por Trump em uma publicação em sua conta no Truth Social (plataforma do Trump Media and Technology Group – TMTG), gerou uma resposta imediata no mercado de criptomoedas, com o preço do Bitcoin demonstrando uma forte e esperada volatilidade.
A afirmação de Trump de que as conclusões alcançadas são “benéficas para ambas as partes” e que novas negociações serão iniciadas com base nelas, embora otimista em sua superfície, também serviu para sublinhar o fracasso das conversas anteriores, realizadas no mês passado na Suíça. Essas negociações, que se esperava que dessem um passo significativo em direção à resolução, terminaram sem um avanço concreto, alimentando a incerteza e a desconfiança entre as duas maiores economias do mundo.
De fato, o período pós-Genebra foi marcado por uma escalada nas acusações mútuas, com os EUA acusando a China de violar os acordos firmados e Pequim, por sua vez, lançando críticas contundentes a Washington.
Esse confronto contínuo havia derrubado o sentimento do mercado global, resultando em quedas significativas não apenas em bolsas de valores tradicionais, mas também no segmento de criptomoedas. A instabilidade geopolítica entre essas potências econômicas é um fator de peso que influencia diretamente o apetite por risco dos investidores, levando à retirada de capital de ativos mais voláteis. No entanto, o novo sinal de diálogo, ainda que sem detalhes sobre a data e o local da próxima rodada de discussões, desencadeou uma reação notável no preço do Bitcoin. O ativo digital, muitas vezes visto como um barômetro do sentimento de risco global, reagiu positivamente, embora com uma moderação que sugere cautela por parte dos investidores.
A composição da delegação dos EUA para essas novas conversas indica a seriedade com que Washington está abordando o tema. Composta por figuras-chave como o Secretário do Tesouro, Scott Bessent, o Secretário do Comércio, Howard Lutnick, e o Representante Comercial dos EUA, Jamieson Greer, a equipe americana demonstra um alinhamento de lideranças econômicas e comerciais em busca de um consenso. A presença desses nomes de peso sugere que as negociações serão abrangentes e que tentarão abordar as raízes das disputas, que vão desde questões tarifárias até acusações de roubo de propriedade intelectual e práticas comerciais desleais.
Cripto em Foco: Resiliência em US$ 100.000 e os Desafios da Confiança do Mercado
É fundamental contextualizar a reação do Bitcoin lembrando que seu preço havia despencado de suas máximas históricas após a intensificação das tensões comerciais. Períodos de incerteza geopolítica, como o que se viu recentemente, são frequentemente acompanhados por movimentos de realização de lucros por parte de grandes detentores de criptoativos, conhecidos como “baleias”. Essa movimentação massiva de vendas pode gerar uma pressão descendente significativa sobre o preço, levando a quedas abruptas.
Pouco antes do anúncio das novas negociações, a principal criptomoeda havia demonstrado um esforço de recuperação, embora com um entusiasmo contido. De acordo com dados do CoinMarketCap, o Bitcoin havia se recuperado para a marca de US$ 104.000, o que, em um contexto de alta volatilidade, pode ser considerado um avanço positivo.
No entanto, a forma como os investidores “digeriram” a notícia positiva ainda é um ponto de observação. O capital, aparentemente, ainda não se sente em terreno sólido o suficiente para retornar ao BTC com a confiança plena que se viu em períodos de maior otimismo. Isso se reflete na dinâmica do mercado, onde a cautela prevalece sobre a euforia.
No momento, a volatilidade do preço do Bitcoin permanecia alta. Após atingir brevemente quase US$ 106.000, a moeda recuou para menos de US$ 104.000. Essa oscilação contínua é um claro indicativo de que a incerteza permanece como o fator determinante nas relações dos Estados Unidos com seus principais parceiros comerciais, e a China está no topo dessa lista. Cada declaração, cada boato, cada passo nas negociações é monitorado de perto por um mercado ansioso por sinais de estabilidade ou de uma nova escalada.
A complexidade da situação é agravada pela percepção do lado chinês. Segundo relatos da mídia chinesa, Pequim tem poucas expectativas quanto à real determinação da Casa Branca em buscar uma solução mutuamente benéfica.
Essa desconfiança mútua é um obstáculo significativo para o progresso das negociações. Enquanto persistirem as suspeitas e a falta de fé na intenção real de cada lado, é improvável que o capital, especialmente aquele mais avesso ao risco, se sinta motivado a retornar a ativos considerados de risco, como o Bitcoin e outras criptomoedas. A falta de um “terreno sólido” de confiança impede que os investidores institucionalizados e os grandes capitalistas aloquem recursos significativos de forma consistente.
Apesar da volatilidade e da incerteza, um aspecto que merece destaque neste drama comercial é a aparente solidez do preço do Bitcoin no nível de suporte de US$ 100.000. Mesmo em meio às recentes liquidações e à pressão vendedora, o ativo digital demonstrou uma resiliência notável, indicando que há uma forte demanda de compra nesse patamar. É encorajador observar que as baleias e os portfólios de Wall Street, após um período de cautela, estão retomando timidamente o ritmo de compra.
Um exemplo disso é o desempenho dos ETFs de Bitcoin, que registraram seu segundo dia consecutivo de entradas líquidas nesta quarta-feira, após um período de três dias de fortes saídas. Isso sugere que, apesar das turbulências de curto prazo, o interesse institucional no Bitcoin permanece robusto, e a convicção no valor de longo prazo do ativo digital parece estar se solidificando em meio à incerteza macroeconômica.
A recuperação nas entradas dos ETFs de Bitcoin é um sinal vital de que a confiança no ativo está se reestabelecendo gradualmente, especialmente entre investidores que buscam exposição ao mercado cripto através de veículos regulamentados. Este cenário de resiliência em um nível de suporte psicológico importante, combinado com a retomada das negociações comerciais, embora com as suas complexidades inerentes, pinta um quadro de um mercado de Bitcoin que está amadurecendo e se adaptando às realidades do cenário geopolítico global, mesmo com os desafios da desconfiança entre as grandes potências.