Recuo de agosto acende alerta para o Bitcoin em setembro

Bitcoin setembro

Bitcoin enfrenta agosto turbulento enquanto ether atrai capital e instituições aceleram acumulação

A temporada de agosto trouxe fortes contrastes no mercado cripto. Enquanto o Bitcoin enfrentou pressão e perdeu parte de seus ganhos recentes, o Ether conseguiu atrair capital em ritmo impressionante. Além disso, sinais claros de acumulação institucional e varejista sugerem que a dinâmica de oferta e demanda pode estar mudando. Esse cenário, no entanto, exige atenção redobrada dos investidores.

Agosto confirma a fama de mês difícil para o Bitcoin

Poucos temas são tão recorrentes nos mercados financeiros quanto os indicadores sazonais. O famoso ditado “venda em maio e depois vá embora” sempre retorna nas discussões, embora seu peso prático seja questionável. No universo das criptomoedas, mesmo com um histórico limitado, a sazonalidade também se tornou pauta frequente. Agosto, por exemplo, ganhou fama como um período difícil para o Bitcoin, e dessa vez os números confirmaram a tendência.

Apesar dos fluxos consistentes em ETFs à vista e da mudança de postura de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, o Bitcoin encerrou o mês com queda de 8%. A criptomoeda recuou de forma significativa após atingir o recorde de US$ 124.000 em meados de agosto, sendo negociada pouco acima de US$ 108.000 no fechamento mensal. Essa reversão eliminou os ganhos conquistados no verão, deixando o ativo abaixo dos níveis do Memorial Day.

Ether se destaca em meio à limitação de capital

Enquanto o Bitcoin enfrentava resistência, o Ether viveu um movimento de destaque. O ativo acumulou alta de 14% em agosto, superando o BTC em mais de 2.000 pontos-base. O diferencial não foi apenas técnico, mas também estrutural: os ETFs de ether receberam influxos robustos, somando cerca de US$ 4 bilhões no mês, contra apenas US$ 629 milhões nos ETFs de Bitcoin.

Esse contraste chama ainda mais atenção quando comparado às respectivas capitalizações de mercado. O Ether, com cerca de US$ 500 bilhões de valor total, representa menos de um quarto dos US$ 2,1 trilhões do Bitcoin. Mesmo assim, conseguiu atrair quatro vezes mais capital. Num ambiente global de política monetária restritiva e fiscal mais apertada, o capital tende a ser seletivo. Em agosto, esse capital se direcionou ao Ether, aparentemente em detrimento do Bitcoin.

Setembro traz incertezas e desafios adicionais

Os padrões sazonais apontam que setembro costuma ser ainda mais desafiador para o Bitcoin. Dados da Glassnode mostram que, em 12 anos, o ativo caiu em oito setembros, com uma média negativa de 3,8%. Ainda assim, é importante destacar que boa parte dessas observações ocorreu quando o Bitcoin ainda era marginal no radar dos investidores institucionais. Portanto, embora a estatística seja relevante, ela não deve ser interpretada como regra fixa.

Além disso, a atual conjuntura é marcada por novos fatores de mercado, como o crescimento dos ETFs e a entrada maciça de capitais institucionais. Essa realidade sugere que padrões históricos podem ter menor influência no comportamento do ativo.

Acumulação institucional reforça a demanda por Bitcoin

Apesar da fraqueza recente nos preços, sinais de acumulação sustentam o otimismo de longo prazo. André Dragosch, chefe de pesquisa da Bitwise para a Europa, destacou que a adoção corporativa do Bitcoin acelerou em ritmo histórico durante julho e agosto. Nesse período, foram criadas 28 novas empresas de tesouraria de Bitcoin, que adicionaram mais de 140.000 BTC aos balanços.

Esse montante equivale a quase toda a produção anual de novos bitcoins, reforçando o argumento de que a demanda institucional absorve a oferta de forma mais rápida do que ela é criada. Um gráfico da Bitwise ilustrou a curva ascendente desse processo, aproximando-se do modelo popularizado por Michael Saylor, da MicroStrategy, que transformou a criptomoeda em ativo estratégico de reserva.

Os títulos corporativos adicionaram 140.600 BTC em julho-agosto, por Bitwise (Bitwise/X)

O peso do varejo e o possível rompimento

Além das instituições, o varejo também mostrou força. Em 27 de agosto, Dragosch destacou que todos os grupos de carteiras, desde pequenos investidores até baleias, estavam acumulando Bitcoin em ritmo acelerado. A taxa de acumulação atingiu o nível mais alto desde abril, um dado que historicamente precede movimentos de alta expressivos.

Apesar desse cenário de acumulação consistente, o preço do Bitcoin se manteve estável em torno de US$ 108.716 nas últimas 24 horas, segundo a CoinDesk. O movimento lateral indica que os investidores aguardam catalisadores mais claros para definir a próxima direção do mercado. Ainda assim, a combinação de entradas institucionais e varejistas sugere que a pressão de compra pode se intensificar.

Conclusão

Agosto mostrou como o mercado de criptomoedas continua cheio de contrastes. O Bitcoin sofreu com a sazonalidade e perdeu força, enquanto o Ether conquistou a preferência do capital. Ao mesmo tempo, sinais robustos de acumulação institucional e varejista indicam que a narrativa de longo prazo segue fortalecida. Os próximos meses, portanto, podem ser decisivos para confirmar se a pressão de compra será suficiente para alterar o equilíbrio atual.