Opinião: Regulação pode prevenir a insolvência de exchanges?

Colapsos repentinos assombram investidores e podem levar a grandes perdas financeiras; há uma forma eficiente de evitá-los?

O peso (ou não) da lei

Recentemente, um brasileiro perdeu R$ 1 milhão em criptomoedas na FTX. Ele não conseguiu sacar seus fundos a tempo, tendo em vista o colapso incrivelmente rápido da plataforma. O usuário em questão é o YouTuber André Fauth, que possui cerca de 32 mil inscritos.

Fauth foi apoiador da FTX por algum tempo, recomendando-a a seus seguidores. Seu vídeo fixado tem cerca de 10 mil visualizações. Entretanto, apesar do calote, ele acredita que a regulação do mercado não é a melhor opção.

Mesmo que a queda tenha sido ruim para o mercado, a regulação não é capaz de prevenir desgraças como esta. Ele lembrou de Bernie Madoff, que chocou o mundo com seu esquema internacional de pirâmide financeira. O embuste durou inacreditáveis 20 anos.

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Bernard Madoff, autor de um dos maiores esquemas de pirâmide da história. Imagem: Wikipedia

Madoff atraía investidores ao redor do mundo, prometendo retornos imensuráveis de curto prazo aos que tivessem coragem de fazê-lo. Acontece que os “retornos” pagos pelo golpista nada mais eram que pequenos repasses, oriundos de outros depósitos que recebeu de suas vítimas.

Precisou haver a crise financeira de 2008 para quebrar o esquema. Preocupados com o amanhã, investidores decidiram sacar seus fundos com Madoff – mas não havia liquidez suficiente, obviamente. Ele teria de pagar US$ 7 bilhões, mas possuía cerca de US$ 300 milhões.

Onde entra a regulação nesta história?

O escândalo de Mardoff é especialmente interessante por ilustrar um caso de mais de duas décadas envolvendo fraude de ações e títulos. Estamos falando de um homem que foi diretor da NASDAQ e fundador da firma Bernard L. Madoff Investment Securities LLC – empreendimentos regulados pela Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC).

Mesmo com uma das regulações mais incisivas do mundo, capaz, inclusive, de estender sua influência para o além-mar, o governo norte-americano, seja por incompetência ou corrupção, levou duas décadas para detectar e tentar resolver o problema.

Durante duas décadas, Madoff fez declarações fraudulentas à SEC – que nada fez até o colapso financeiro norte-americano, impulsionado pela falência do banco de investimentos Lehman Brothers, fundado em 1850.

Temos um exemplo relativamente parecido no Brasil: entre as décadas de 1980 e 1990, o golpe das Fazendas Boi Gordo arrecadou R$ 4 bilhões. Investidores acreditaram que seu capital estava sendo investido na criação de gado no interior de Goiás; cerca de 30 mil pessoas foram lesadas. Foi criada, inclusive, a Associação dos Lesados Pelas Fazendas Reunidas Boi-Gordo (ALBG). O caso tramita na justiça até hoje.

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Paulo Andrade, primeiro dono do esquema Fazendas Reunidas Boi-Gordo, manteve as atividades até 2001. Imagem: VEJA

É de conhecimento geral que o agro é a força propulsora da economia do país, sendo responsável por 26% do PIB; portanto, extremamente regulado e repleto de exigências e facilidades aos que têm capital suficiente para entrar no jogo.

Por que o mercado cripto é mais seguro?

Segundo a Chainalysis, apesar de o número de golpes no mundo cripto ter aumentado ao longo dos anos, suas vidas úteis foram drasticamente reduzidas. As razões são simples: empresas especializadas em segurança Blockchain passaram a monitorar fraudes com mais propriedade e aprenderam a lidar mais rapidamente com certas ocorrências.

Diferentemente de mercados centralizados e regulados, a maioria esmagadora das criptomoedas é totalmente rastreável e passível de auditoria; essas duas características tornam as fraudes com ativos digitais menos atrativas.

Uma carteira reconhecida como pertencente a um criminoso pode ser inserida em uma “lista negra”, sinalizando a todos os investidores para que não efetuem transações com tais endereços. Dentro do universo fiduciário, entretanto, pode ser quase impossível diferenciar uma nota verdadeira de uma falsa.

Nada mais falso que o governo dizer que as regulações existem para trazer “segurança”.

Como evitar tais fraudes?

Não há mistério ou “fórmula mágica” para evitar golpes ou colapsos no universo cripto: se for um projeto de criptomoeda, leia o whitepaper, confira o roadmap do projeto, seu nível de aceitação, sua liquidez e guarde seu capital em uma carteira não-custodial.

Se for uma plataforma de negociação, verifique seus antecedentes, analise os membros por trás de sua fundação e manutenção, o grau de aceitação e jamais as utilize como carteira. Afinal, exchanges tendem a ser os principais alvos dos criminosos devido à sua alta liquidez e baixa segurança – em grande parte devido à centralização.

Enquanto alguns vendem estes conhecimentos de maneira prolixa, aproveite-os de maneira totalmente gratuita. Eles certamente poderão curar sua saúde financeira em algum momento.

Foto de Rafael Motta
Foto de Rafael Motta O autor:

Jornalista, trader e entusiasta de tecnologia desde a infância. Foi editor-chefe da revista internacional 21CRYPTOS e fundador da Escola do Bitcoin, primeira iniciativa educacional 100% ao vivo para o mercado descentralizado. Foi palestrante na BlockCrypto Conference, em 2018.