Stripe e Circle entram na corrida dos blockchains corporativos

Stripe e Circle criam suas blockchains
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Stripe e Circle entram na corrida por blockchains próprias para dominar o futuro dos pagamentos digitais e disputar o controle das stablecoins

A construção de blockchains próprias tornou-se a nova tendência entre as gigantes de fintech. Coinbase já tem a sua, Robinhood anunciou planos em junho e até a eToro avalia entrar nessa onda. Agora, Stripe e Circle avançam com projetos ambiciosos que podem redefinir os pagamentos digitais. Além disso, a movimentação dessas empresas desperta debates intensos sobre estratégia, competição e o futuro das stablecoins.

Stripe busca controle total sobre pagamentos digitais

A Stripe está desenvolvendo o Tempo, um blockchain focado em pagamentos. A informação veio à tona após uma vaga de emprego e relatos de fontes próximas ao projeto. Esse passo, no entanto, não é isolado: em 2024, a empresa comprou a startup de stablecoin Bridge por US$ 1,1 bilhão, garantindo acesso a uma rede própria. Pouco depois, adquiriu a Privy, especializada em carteiras de criptomoedas. Assim, a Stripe pode agora oferecer não apenas transações, mas também contas para armazenamento de stablecoins.

Segundo Rob Hadick, sócio da Dragonfly, “há um incentivo claro para que empresas como a Stripe possuam o pacote completo”. O raciocínio faz sentido: quem controla desde a moeda até a rede de pagamentos domina toda a experiência do usuário. Portanto, adicionar um blockchain significa integrar verticalmente todo o ecossistema.

A motivação também é econômica. A Stripe movimenta mais de US$ 1,4 trilhão em volume anual. Se parte dessas operações migrar para stablecoins externas, a companhia perderia milhões em receita. Ao criar o Tempo, ela garante que as taxas retornem ao seu próprio sistema.

Os exemplos de retorno são sólidos. A Base, blockchain da Coinbase, já arrecadou mais de US$ 130 milhões em taxas desde 2023, conforme dados da DefiLlama. Assim, controlar a economia de taxas virou prioridade para empresas que antes apenas processavam pagamentos em redes de terceiros.

Contudo, há desafios. A multiplicação de blockchains corporativos pode gerar confusão para consumidores comuns, que teriam de lidar com moedas diferentes em ecossistemas fragmentados. Essa barreira pode atrasar a adoção massiva.

Circle reage para proteger seu modelo de negócios

A Circle, criadora do USDC, também entrou na corrida. Na última semana, anunciou o desenvolvimento do Arc, blockchain voltado especificamente para stablecoins. A empresa já opera uma rede de pagamentos robusta e oferece soluções para criação de carteiras corporativas, mas ainda dependia de redes externas para processar transações.

Segundo Bam Azizi, CEO da Mesh, o objetivo é claro: “Eles querem controle sobre essa parte do movimento do dinheiro também”. Essa decisão reflete tanto ambição quanto necessidade.

Diferente da Stripe, a Circle é altamente dependente de um único fator: os rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano que lastreiam o USDC. No segundo trimestre de 2025, mais de 96% da receita veio apenas desses juros. Se as taxas de juros caírem, o modelo de negócios ficaria vulnerável. Portanto, o Arc funciona como defesa estratégica, abrindo uma nova fonte de receita baseada em taxas de rede.

Jeremy Allaire, CEO da Circle, afirmou que a empresa está “construindo uma pilha completa, desde a infraestrutura até a stablecoin e a rede de pagamento”. A mensagem, no entanto, também mostra a tentativa de se posicionar em um mercado onde rivais já avançaram. Para investidores, essa diferença entre ataque e defesa é crucial.

Ofensiva versus Defesa no futuro dos pagamentos

Especialistas avaliam que Stripe e Circle atuam em ritmos distintos. Para Rob Hadick, da Dragonfly, a Stripe se posiciona “ofensivamente e proativamente”, antecipando o futuro dos pagamentos digitais. Já a Circle age de maneira “defensiva e reativa”, tentando não ficar para trás após abrir capital.

Apesar disso, ambas enxergam no blockchain a chance de transformar custos em receita e fortalecer sua relevância. O movimento não é apenas moda passageira. Trata-se de uma corrida pelo controle da infraestrutura onde trilhões de dólares circularão nos próximos anos.

Ainda que o excesso de redes possa confundir consumidores, a tendência é que apenas algumas sobrevivam e se consolidem. Stripe e Circle querem garantir que suas versões estejam entre as escolhidas. Assim, moldam o futuro da internet do dinheiro.

A entrada da Stripe e da Circle no desenvolvimento de blockchains próprias não é coincidência, mas parte de uma disputa estratégica. Enquanto a Stripe aposta na ofensiva para expandir sua liderança em pagamentos, a Circle age para defender seu modelo diante da dependência de juros. No entanto, ambas caminham para o mesmo destino: capturar valor em um mercado onde controlar a rede será tão importante quanto oferecer a moeda.