Taxas de transação em criptomoedas: como resolver o problema?
Uma conversa de botequim durante evento cripto levantou uma questão polêmica e interessante; confira
Transacionar cripto pode ser (bem) caro
Quem negocia criptomoedas há alguns anos, sabe: as taxas de transação, dependendo da situação do mercado, podem ser proibitivas. Segundo dados do Statista, uma transação de Bitcoin (BTC) custava algo em torno de US$ 25,84 em dezembro de 2017.
A razão disto é relativamente simples de compreender: o Bitcoin é capaz de executar até 7 transações por segundo. Grandes volumes de negociação levam facilmente à sobrecarga da rede; em várias ocasiões, havia mais de 300 mil transações em fila.
O mesmo ocorreu com o Ethereum: em outubro de 2021, a rede registrou uma taxa de gás média de US$ 25,43, segundo dados do YCharts. Apesar de o Ether (ETH) ser capaz de executar mais transações que o Bitcoin, sua escalabilidade é, sem dúvidas, risível – pelo menos até o momento. Acredita-se que a grande atualização que está por vir mudará drasticamente o cenário.
Mas, enfim, como resolver este grave problema de taxas excessivas?
Papo de botequim
Tive uma breve conversa com Carl Amorim, figura proeminente dentro do underground cripto brasileiro, a respeito de altas tarifas de transação. O “papo de boteco” ocorreu na sexta-feira (2) durante o Blockchain Rio Festival. Segundo ele, “uma das coisas mais estúpidas” é fazer uso do token principal (nativo) de uma blockchain para pagar taxas de transação.
O motivo seria o seguinte: com a valorização do token nativo, as taxas de transação ficariam naturalmente mais caras, o que poderia virar um grave problema de longo prazo. Questionado sobre qual seria a solução, Amorim resumiu-se a dizer: “Não negocie o token”.
Verdade seja dita, criptomoedas que cobram grandes taxas de transação sofrem deste mal por conta de falhas fundamentais de escalabilidade, não porque seus ativos estão supervalorizados. A afirmação carece, obviamente, de prova de história. Usuários Solana (SOL), peço perdão pela piada.
Eficiência x custo
De acordo com o GoBankingRates, o Bitcoin é capaz de executar cerca de 10.400 transações por hora. Caso a demanda extrapole as capacidades da rede, questões de oferta e demanda ferirão os bolsos alheios; se você quiser uma transação mais rápida, terá de pagar (muito) mais para furar a fila.
Trata-se de um valor ridiculamente baixo para que o Bitcoin seja efetivamente utilizado como moeda em escala global. AVAX, token da Avalanche, é capaz de executar até 5.000 transações entre 1 e 2 segundos; Ripple (XRP) pode atingir algo entre 1.500 e 50.000 transações por segundo.
Caso a grande atualização do Ethereum honre suas promessas, acredita-se que o Ether (ETH) será capaz de executar até 100.000 transações por segundo. Em comparação com o mundo digital tradicional, a Mastercard processa algo em torno de 5.000 transações por segundo, enquanto a Visa atinge até 24 mil transações por segundo.
De maneira simplificada, redes capazes de realizar milhares de transações por segundo podem, em teoria, executar taxas de transação muito menores, tendo em vista que sobrecarregá-las é muito mais difícil.
Além disso, de acordo com a lei da oferta e da procura, menos transações por segundo, em cenários de uso intenso, tornam-nas mais escassas; por isso, mais caras. Por outro lado, transações abundantes diminuem drasticamente sua escassez, reduzindo seu valor.
Por que ativos menos eficientes ainda estão no topo?
Não são poucos os exemplos de criptomoedas capazes de transacionar muito mais rápido que o Bitcoin ou o Ethereum; entretanto, os dois ativos continuam muito à frente dos demais em termos de volume de mercado.
As duas blockchains foram capazes de resistir bravamente à prova do tempo, sendo os dois projetos mais tradicionais e longínquos; em contraste, por mais promissores e escaláveis que sejam seus concorrentes, eles ainda não foram capazes de provar sua resiliência com tamanha propriedade.
Atualizações lentas e insuficientes nas principais plataformas começaram a pesar nos últimos cinco anos; entretanto, são investimentos incrivelmente sólidos devido à sua inegável segurança e aceitação de mercado.
O mesmo não pode ser dito da Solana, por exemplo. Apesar de sua premissa ser fantástica, a instabilidade de sua blockchain apavora qualquer investidor menos desavisado. Enquanto as quedas e intermitências frequentes não forem resolvidas, continuará sendo um projeto promissor, mas muito mal executado.
Considerações finais
Projetos promissores estão refinando suas receitas para oferecer produtos deliciosos. Afinal, que usuário cripto não deseja fazer uso de blockchains tão seguras como a do Bitcoin, mas verdadeiramente escaláveis e acessíveis?
Porém, para se ter “certeza” (entre aspas, por favor) de que há solidez, é necessário tempo; pular etapas trará insipidez, a exemplo do colapso Terra (LUNA). Grandes promessas pressupõem grandes responsabilidades; apenas o tempo mostrará o quão comprometidos estão os desenvolvedores em honrar suas promessas.
Jornalista, trader e entusiasta de tecnologia desde a infância. Foi editor-chefe da revista internacional 21CRYPTOS e fundador da Escola do Bitcoin, primeira iniciativa educacional 100% ao vivo para o mercado descentralizado. Foi palestrante na BlockCrypto Conference, em 2018.