Tesouraria de ativos digitais: por que as DATCOs estão mudando o jogo
Nos últimos anos, um novo tipo de empresa tem movimentado tanto Wall Street quanto o mercado cripto: as Empresas de Tesouraria de Ativos Digitais (DATCOs). Diferentemente das empresas tradicionais, essas companhias adotam uma estratégia deliberada de acumular Bitcoin e outros tokens como núcleo do negócio. Além disso, elas transformaram a relação entre capital de risco e ativos digitais, abrindo uma janela para investidores que buscam exposição alavancada ao setor.
Como as DACTOs surgiram e por que atraem tanto capital
O movimento começou com a Strategy (ex MicroStrategy), que em 2020 converteu reservas de caixa em Bitcoin, tornando-se referência global. Essa decisão abriu caminho para que outras empresas copiassem o modelo. De 2023 a 2025, fatores como a mudança contábil do FASB, a aprovação dos ETFs à vista de Bitcoin pela SEC e a volatilidade das moedas fiduciárias impulsionaram o avanço das DATCOs. Assim, surgiram companhias como Metaplanet, SharpLink Gaming e BitMine, cada uma explorando nichos próprios.
Além disso, as DATCOs operam como uma espécie de “proxy” para investidores institucionais que não podem comprar ativos digitais diretamente. Dessa forma, fundos de pensão, fundos soberanos e gestoras ganham acesso indireto ao mercado cripto por meio dessas ações listadas. Esse mecanismo faz com que muitas DATCOs negociem com prêmios elevados em relação ao valor patrimonial líquido, o que atrai ainda mais capital.
O modelo de negócio: capital permanente e estratégia de tesouraria
Enquanto uma empresa tradicional busca retorno operacional, as DATCOs buscam ampliar suas reservas digitais. Para isso, usam ferramentas como programas “At-the-Market” (ATMs), que permitem vender ações no mercado e comprar mais Bitcoin sem diluir demais os acionistas, e PIPEs, captações privadas que aceleram a entrada de recursos.
Outro diferencial é que as DATCOs funcionam como veículos de capital permanente, similares a REITs ou MLPs. Isso lhes dá liberdade para pensar no longo prazo e não depender de ciclos curtos de captação. Portanto, gestores podem concentrar esforços na acumulação e gestão dos ativos digitais, tornando-se menos vulneráveis às pressões de curto prazo do mercado.
Expansão global e diversificação além do Bitcoin
Embora o Bitcoin ainda seja o ativo dominante, cresce o interesse em Ethereum e altcoins com rendimento de staking, como SOL e BNB. Isso amplia as possibilidades de tesouraria e cria novas métricas de eficiência, como o “Rendimento do Bitcoin” por ação diluída.
As DATCOs também deixaram de ser um fenômeno concentrado nos EUA. O Japão, por exemplo, abriga a Metaplanet, com uma estratégia agressiva de acumulação. Essa globalização mostra que o modelo é flexível e pode se adaptar a diferentes regimes regulatórios.
Riscos e desafios que podem abalar o ciclo
Apesar do sucesso, o modelo das DATCOs não é à prova de falhas. Se os prêmios sobre o valor patrimonial líquido caírem ou virarem desconto, a engrenagem de captação pode parar. Isso já ocorreu em alguns casos, forçando empresas a recomprar ações para tentar sustentar a cotação. Além disso, uma queda abrupta no preço do Bitcoin ou um aperto na liquidez do mercado de capitais poderia acelerar um efeito dominó no setor.
Essa dinâmica lembra ciclos históricos de euforia, como os fundos de investimento dos anos 1920, que cresceram rápido demais e depois colapsaram. Embora as DATCOs sejam mais transparentes e reguladas, a mecânica de capital ainda guarda semelhanças preocupantes.
As DATCOs surgiram como um elo entre o mercado cripto e o sistema financeiro tradicional, profissionalizando a acumulação corporativa de ativos digitais. Com capital permanente, exposição ampliada e estratégias sofisticadas, elas transformaram o modo como empresas e investidores interagem com o Bitcoin. No entanto, essa ascensão não é imune a riscos de liquidez e reflexividade do mercado. O sucesso futuro das DATCOs dependerá de manter prêmios elevados, estratégias de captação eficientes e adaptação constante às novas demandas do mercado global de criptoativos.