Trump taxa Brasil em 50%, Real desaba, Dólar resiste e Bitcoin alça novo voo

O dólar norte-americano caiu nesta quinta-feira (10), mesmo com o anúncio de novas tarifas por Donald Trump. Embora os mercados globais tenham reagido com moderação, o Brasil sentiu o impacto direto da medida. A imposição de uma tarifa extra de 50% sobre os produtos brasileiros mexeu com o câmbio e pressionou o real, que teve sua maior desvalorização em mais de um mês.
Durante a madrugada, a moeda brasileira caiu 2,8%, sendo negociada a R$ 5,6047. O motivo foi claro: o novo pacote tarifário de Trump incluiu o Brasil com peso extra, indo além da alíquota básica de 10% válida desde abril. A retaliação foi motivada não apenas por fatores comerciais, mas também por questões políticas e ideológicas — especialmente o julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), citado nominalmente pelo ex-presidente americano.
Além da medida em si, Trump aproveitou o anúncio para reforçar seu apoio ao ex-mandatário brasileiro, classificando o julgamento como “uma caça às bruxas” em sua rede social Truth Social. As críticas ao STF se estenderam também às plataformas digitais, como o X , que sofreram sanções da Corte em 2024.
Medida de impacto localizado, mas com alerta global
Apesar do barulho, o efeito imediato da decisão ficou restrito ao Brasil. Nos demais mercados, os investidores demonstraram pouca preocupação. A razão? A maior parte das cartas enviadas por Trump aos parceiros comerciais trouxe tarifas semelhantes às já conhecidas. Além disso, o próprio ex-presidente deixou aberta a possibilidade de negociação até o prazo de 1º de agosto, caso os países apresentem propostas convincentes.
No caso do Brasil, Trump ainda sugeriu que a tarifa pode ser suspensa se empresas brasileiras decidirem produzir dentro dos Estados Unidos. Ele também defendeu o fim de “barreiras tarifárias e não tarifárias” que, segundo ele, limitam o acesso americano ao mercado brasileiro.
Dessa forma, o episódio reacendeu discussões sobre o uso recorrente de tarifas como instrumento político. “É um lembrete da propensão de Trump às tarifas como ferramenta contra uma ampla gama de queixas”, escreveu Taylor Nugent, economista sênior do National Australia Bank.
Enquanto isso, o índice do dólar — que mede seu desempenho frente a uma cesta de seis moedas — caiu 0,1%, para 97,286 pontos. O recuo foi influenciado por um forte leilão de títulos de 10 anos do Tesouro americano, o que derrubou os rendimentos e aliviou a pressão sobre a moeda.
Risco global em baixa anima Bitcoin e ações
Com o alívio nas tensões comerciais e uma postura mais dovish do Federal Reserve, o apetite por risco voltou aos mercados. A ata da última reunião do Fed indicou que a maioria dos membros vê espaço para cortes de juros ainda este ano — o que ajudou a empurrar ativos de risco para cima.
A combinação de dólar mais fraco, expectativa de juros menores e menos temor geopolítico foi, portanto, o gatilho que faltava para o Bitcoin. A criptomoeda avançou 0,3% e chegou a US$ 111.114, bem perto do recorde histórico de US$ 111.988,90 registrado horas antes.
Segundo o analista Tony Sycamore, da IG, o novo rali foi impulsionado por “melhora no sentimento de risco”. Ele acredita que há espaço para novas altas, com o Bitcoin mirando os US$ 120 mil nas próximas semanas.
Além do Bitcoin, a valorização não ficou restrita aos criptoativos. O euro subiu 0,2%, para US$ 1,1747; a libra esterlina também avançou 0,2%, sendo negociada a US$ 1,3612. Já o dólar caiu 0,3% frente ao iene (145,84) e ao franco suíço (0,7922).
A ação da Nvidia, por sua vez, atingiu um feito histórico ao alcançar uma avaliação de mercado de US$ 4 trilhões — impulsionada pela confiança dos investidores em tecnologia e inteligência artificial.
Brasil na mira, mas cenário ainda é incerto
Mesmo com o foco principal voltado ao Brasil, os mercados permanecem atentos a outras regiões. A ausência de cartas para Índia, União Europeia e Taiwan levantou dúvidas sobre os próximos passos de Trump. Ao mesmo tempo, há sinais de que acordos com a Índia e a UE estejam se encaminhando.
Internamente, o Brasil se vê diante de um desafio: como responder à escalada retórica e econômica vinda dos Estados Unidos sem comprometer sua inserção comercial no mundo? A convocação do encarregado de negócios da embaixada americana pelo Itamaraty foi apenas o primeiro passo.
Por outro lado, o temor é que a retaliação não seja isolada e acabe prejudicando a imagem do país em negociações multilaterais — especialmente no contexto do Brics, grupo que tem promovido aproximações econômicas com países considerados rivais geopolíticos dos EUA.
Trump, ao que tudo indica, está disposto a usar tarifas como moeda de troca política e estratégica. E, mais uma vez, o real pagou o preço imediato por essa postura.