Fundo tradicional liquida em um ano; criptomoedas são realmente tão perigosas?

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Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, estava entre os cotistas. Imagem: BBC

A saída de um investidor-chave levou ao colapso do fundo; apostas erradas foram feitas por dois sobrinhos do ex-presidente do Banco Central

Fundo tradicional entra em colapso

O fundo TT Global Equities, da TT Investimentos, perdeu 95% de seu valor ao longo do ano devido a inúmeras escolhas equivocadas, além da saída de um investidor crítico que garantia liquidez. O produto bancário foi lançado por Antônio e Arthur Fraga, sobrinhos de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central.

O patrimônio do fundo girava em torno de US$ 80 milhões em 2021; agora, sua capitalização de mercado não passa dos US$ 9 milhões.

Houve severa desvalorização nos meses de maio (32%), junho (44%) e agosto (56%). Trata-se de um cenário completamente diferente do apresentado em anos anteriores; em 2020, o fundo registrou alta de 68,4% e, em 2021, valorizou 31,2%.

Carta aos credores

Em e-mail enviado aos cotistas, Arthur Fraga disse ter realizado uma operação arrojada e que, por conta dela, acabou pagando o preço. Ele afirma ter executado ordens alavancadas de compra e venda de uma empresa, a Clarus (CLAR) por alguns dias.

Contudo, no dia seguinte à alavancagem, o custodiante, diante da concentração do portfólio, optou por tirar toda a margem que havia liberado no dia anterior. Devido à falta de liquidez, Fraga liquidou a posição em dois dias, o que gerou “perdas irreparáveis ao fundo”.

Confira o desabafo de Fraga:

“Estou escrevendo este e-mail com muito pesar no coração, sabendo que não apenas perdi o dinheiro do fundo, mas acabei com a minha carreira em um negócio que amo desde pequeno. A minha vida nunca mais será a mesma e o meu relacionamento com cada um de vocês certamente também não. Eu nem imagino a raiva e desapontamento que estejam sentindo nesse momento.”

Por fim, Fraga disse que 95% de seu capital, bem como o de seus sócios, estavam no produto em colapso. “Tudo o que juntei até meus 34 anos se foi”, disse.

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Criptomoedas são realmente tão perigosas?

Um dos argumentos mais comuns do mercado tradicional é que criptomoedas, em linhas gerais, são muito mais voláteis que ativos e produtos bancários controlados por bancos centrais. Acontece que o fato de um asset ser ou não um criptoativo, nesses casos, não tem tanta relevância.

O que ocorreu com o TT Global Equities, entretanto, mostra que, por mais complexa que seja a legislação e por mais ferrenha que seja a vigilância sobre tais produtos de alto risco, eles continuam sendo investimentos extremamente arrojados; como tal, passíveis de grandes perdas financeiras.

Escolhas equivocadas podem levar ao fim de qualquer produto financeiro, seja ele descentralizado ou não. E não há canetada que possa garantir o contrário. Um belo exemplo disso foi o colapso Terra (LUNA), o qual levou à falência de várias empresas de criptomoedas e à liquidação de vários fundos excessivamente dependentes do sucesso de apenas um empreendimento.

Esta é uma lição dura, porém valiosa, aos investidores amadores ou experientes: tanto fundos criptomoedas como ativos fiduciários, devidamente regulados, podem estar completamente à mercê de indivíduos que carecem de conhecimento técnico para que seus produtos sejam bem-sucedidos.

Curiosamente, o site oficial da TT Investimentos estava fora do ar durante a feitura desde artigo. Espera-se que os executivos forneçam mais informações em breve.

Foto de Rafael Motta
Foto de Rafael Motta O autor:

Jornalista, trader e entusiasta de tecnologia desde a infância. Foi editor-chefe da revista internacional 21CRYPTOS e fundador da Escola do Bitcoin, primeira iniciativa educacional 100% ao vivo para o mercado descentralizado. Foi palestrante na BlockCrypto Conference, em 2018.