“Explained”, série da Netflix, alega falsamente que Bitcoins são gastos principalmente em atividades ilícitas

Jameson Lopp, ex-engenheiro chefe da BitGo e um proeminente desenvolvedor de Bitcoin, criticou a Netflix, famosa gigante do entretenimento avaliada em US$159 bilhões, por conta de uma de suas séries originais. Explained (no Brasil, Explicando) foca em Bitcoin e no mercado das criptomoedas durante um de seus episódios.

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Argumentos errados

Em colaboração com a Vox, uma companhia de mídia dos Estados Unidos que possui um famoso canal no YouTube que trata de assuntos difíceis com vídeos informativos, a Netflix criou uma série chamada “Explained” no início deste ano, visando oferecer pontos de vista únicos sobre vários tópicos, desde k-pop até o blockchain.

Um dos mais recentes episódios de Explained fala sobre Bitcoin e a estrutura da indústria das criptomoedas, fazendo uma tentativa de avaliar a tecnologia blockchain e os casos de uso do Bitcoin como uma moeda amplamente utilizada e reconhecida.

Embora o episódio realmente tenha dado uma boa explicação sobre Bitcoin e os básicos sobre a moeda, Lopp enfatizou que a Vox e a Netflix falharam em fornecer uma análise precisa da tecnologia por trás do Bitcoin, e o atual caso de uso da criptomoeda dominante.

Lopp ressaltou os seguintes erros factuais no episódio de Explained sobre Bitcoin:

  1. A maioria dos bitcoins são gastos em atividades ilícitas;
  2. O Byzantine Generals’ Problem é sobre pode transacionar de forma privada;
  3. Satoshi inventou o blockchain;
  4. Todas as criptomoedas utilizam blockchain;

O Byzantine Generals’ Problem, originado do blockchain, e a aplicabilidade desta tecnologia são conceitos relativamente simples, que precisam ser explicados de forma adequada para os usuários iniciantes, tendo em vista que eles são considerados os fundamentos do Bitcoin e de outras grandes criptomoedas.

Tecnicamente, Lopp explicou que Satoshi Nakamoto, o criador anônimo do Bitcoin, não criou o conceito de blockchain, o que em essência é uma tecnologia de registro de datas que assegura uma informação por meio de criptografia. Ele explica:

“Blockchain já foi visto em 1991, quando Stuart Haber e W. Scott Stornetta descreveram o primeiro trabalho em uma criptografada e segura cadeia de blocos. Em 1992, eles incorporaram árvores de Merkle no design, permitindo que muitos documentos fossem coletados em um bloco. Tecnicamente, os documentos se referiam a uma cadeia de datas, mas o ponto principal é que o blockchain é apenas uma estrutura de dados que não tem nada a ver com os mecanismos de consenso que podem ser construídos sobre a estrutura de dados.” 

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Não, Bitcoin não é dinheiro de criminoso

Além de todos estes erros técnicos, Vox e Netflix concluíram de forma incorreta que Bitcoin é gasto, na maioria das vezes, em serviços ilegais, desconsiderando completamente o fato de que o Bitcoin é, em sua natureza, transparente e não-anônimo. A natureza não-anônima do Bitcoin foi o fator que fez muitos operadores de mercados da dark web e distribuidores de conteúdo ilícito a vazarem suas identidades para as autoridades, durante operações secretas e investigações públicas.

Transações feitas na rede Bitcoin podem ser rastreadas utilizando exploradores de blockchain, e qualquer um na rede Bitcoin pode ver todas as transações e carteiras que existem nela. A transparência do Bitcoin torna a criptomoeda um falho método de transação para os mercados da dark web.

Em vez disso, criminosos utilizam criptomoedas focadas no anonimato, como Monero, ZCash e Dash, para armazenar, receber e enviar transações privadas, conforme o governo japonês já revelou.

“É um típico esquema de lavagem de dinheiro. De certa forma, eu não estou surpreso. Se você fará algo ilegal, então todos sabem que é para utilizar as três irmãs anônimas,” disse um oficial do governo japonês, funcionário da Agência de Serviços Financeiros (FSA), ao falar sobre Monero, Zcash e Dash.

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Fonte: CCN