Opinião: Maximalistas são chatos, sem sentido e adoram uma desinformação

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Se você é um maximalista… Bem, pode ficar um tanto quanto incomodado com este texto. Imagem: Crast.net

Alguns produtores de conteúdo são maximalistas declarados; mas qual a importância disso, afinal?

Os fanáticos

Torcedores arraigados são, para o bem ou para o mal, bastante comuns no meio cripto. Alguns são considerados maximalistas; dentro do contexto blockchain, os maximalistas são indivíduos que acreditam que apenas uma criptomoeda será capaz de sobreviver ao futuro e ter alguma utilidade.

Curiosamente, o termo foi cunhado durante a Revolução Russa; o Partido Socialista Revolucionário, ligado ao movimento camponês, exigia a aplicação máxima do programa socialista. Entretanto, o grupo político fracassou miseravelmente, sobrando apenas um punhado insignificante de anarquistas frustrados.

Nos dias atuais, o termo é utilizado para definir o exagero. E tudo em excesso, na grande maioria dos cenários, é ruim. No caso das tecnologias blockchain, certamente não é diferente.

Os argumentos

O usuário @ItalianBitcoinPleb faz jus ao seu pseudônimo questionável. Ele acredita que criptomoedas que fazem uso da tecnologia Proof-of-Stake (PoS), a exemplo do Ethereum, são golpes e que apenas o Bitcoin e seu mecanismo de consenso, prova de trabalho (PoW) são a “única inovação”.

Energia

Em sua sequência de postagens, ele diz que “Bitcoin é a primeira e única tecnologia que incentiva as concessionárias de energia a construir soluções ecologicamente sustentáveis”. Acontece que essa informação é absurdamente mentirosa.

Soluções energéticas ecológicas existem desde 1927, quando foram criados os primeiros sistemas de geração eólica. Eles começaram a ser usados em fazendas remotas nos Estados Unidos e, desde então, sua adoção cresceu consideravelmente ao longo das décadas para reduzir custos e impactos ambientais.

Fora os sistemas de energia solar, que começaram a aparecer em 1954 por conta de Russell Shoemaker Ohl, inventor das células fotovoltaicas. Desde então, todas essas (e muitas outras) tecnologias renováveis e ecológicas foram ficando cada vez mais baratas, pois beneficiam tanto pessoas físicas quanto jurídicas; reduzem custos, impostos e impactos negativos ao meio-ambiente.

Segurança

O maximalista italiano prossegue com suas “pérolas”:

“PoS cria dinheiro do nada por meio do bloqueio de moedas dos usuários. Nenhum trabalho de verdade está sendo feito e a segurança do PoS é muito menor que a do PoW.”

É verdade que blockchains PoS são mais recentes que tantos outros projetos PoW; isso não significa, entretanto, que não sejam seguras, e sim que não passaram pelo mesmo teste do tempo que ecossistemas estabelecidos anteriormente.

Os dois protocolos de consenso têm falhas fundamentais: caso um ator mal-intencionado seja capaz de controlar mais da metade do poder de mineração de um ativo PoW, ele poderá executar um ataque de 51% contra o Bitcoin; dessa forma, ele seria capaz de reverter transações e manipular a rede de várias maneiras.

No caso de redes PoS, a influência dos atores depende unicamente do volume de moedas em sua posse; não é preciso, na maioria dos casos, dispor de grande poder computacional para executar nós de rede. Em boa parte dos ecossistemas blockchain, basta ter pouco mais da metade dos tokens nativos da rede para iniciar um ataque.

Em ambos os casos, o crescimento distribuído das blockchains ajuda a torná-las cada vez mais seguras.

Concorrência

“Quanto mais aprendi, mais entendi sobre a importância do mecanismo PoW do Bitcoin; e o motivo pelo qual ele é o único mecanismo de consenso viável para uma criptomoeda verdadeiramente descentralizada e livre de censura.”

Fico arrepiado de pensar na existência de uma única criptomoeda. Livres iniciativas, que almejam o mesmo nível de descentralização e distribuição do Bitcoin (ou ainda maior, sempre que possível), são fundamentais para a evolução da Web – inclusive do próprio Bitcoin, ainda inviável como criptomoeda global devido à sua falta de escalabilidade e velocidade.

Desde a atualização Taproot do Bitcoin, quase nada tem sido dito a respeito sobre seu desenvolvimento. Alternativas interessantes, como Polkadot (DOT), Cardano (ADA) e Chainlink (LINK) são apenas alguns dos vários exemplos de projetos blockchain com altíssimo potencial de longo prazo, pois sugerem soluções simplesmente impossíveis de serem apresentadas pelo Bitcoin em seu estado atual.

Conclusão

Sempre achei bastante cansativo ter de lidar com maximalistas. O próprio pensamento maximalista, dentro de um mercado descentralizado, não faz qualquer sentido; por que limitar as opções dentro de um mercado cuja força reside na diversidade e na concorrência?

Se dependesse unicamente dos maximalistas, estaríamos condenados.

O que seria da privacidade econômica sem projetos antigos e confiáveis como Monero (XMR)? O que seria do metaverso sem a ideia de criar sistemas blockchain interoperáveis, a exemplo dos esforços da Chainlink? Provavelmente estaríamos com nossas transações enfileiradas por várias horas em uma rede que mal consegue processar 7 transações por segundo.

Fugir dos maximalistas é escapar de más influências.

Foto de Rafael Motta
Foto de Rafael Motta O autor:

Jornalista, trader e entusiasta de tecnologia desde a infância. Foi editor-chefe da revista internacional 21CRYPTOS e fundador da Escola do Bitcoin, primeira iniciativa educacional 100% ao vivo para o mercado descentralizado. Foi palestrante na BlockCrypto Conference, em 2018.