Opinião: o que aconteceu com a narrativa do “lugar seguro” relativa ao Bitcoin

Assim como a maioria dos mercados pelo mundo, o Bitcoin sucumbiu à crise e despencou de valor no mês de março

O ano de 2020 vai se mostrando extremamente desafiador até aqui. A crise do coronavírus se instaurando em diversos aspectos da sociedade pegou a todos de surpresa. Iniciando como um problema local, avançando para uma epidemia e posteriormente para uma pandemia, a doença abalou as estruturas da economia global (incluindo o Bitcoin).

Jé é prevista uma desaceleração econômica global para 2020, e demais efeitos como inflação descontrolada e recessão ainda são possibilidades em aberto para diversos países.

Foi nesse contexto que as bolsas de todo mundo começaram a despencar. Conforme a pandemia avançava, mais os mercados respondiam com pânico e vendas. Em meio a isso, pensava-se que o Bitcoin agiria como uma reserva de valor, afinal de contas, sua criação foi pensada justamente para isso, certo?

A verdade é que o Bitcoin jamais foi uma reserva de valor. Pelo menos não até agora, e pelo menos não até ser provado de verdade. Essa certamente não é uma opinião popular.

É essencial estar ciente que o mercado cripto é dominado por profissionais, assim como basicamente todos os mercados. Um ativo que frequentemente varia 30% em curtos espaços de tempo não pode ser considerado uma reserva de segurança. Não há segurança nenhuma aqui, pelo menos no que toca a volatilidade.

Veja o dia 12 de março, por exemplo:

Maior queda da história do bitcoin

Em 24h foram quase 40% de desvalorização. Em 11 anos de existência foram dezenas as vezes que o BTC variou fortemente de preço em espaços curtos de tempo. A questão é que quando a variação tende para o alto é “bull run” e “Bitcoin to the moon”, mas quando é para baixo buscamos explicações para justificar o injustificável.

O Bitcoin HOJE não é uma reserva de valor. Não há segurança contra volatilidade e nem proteção contra crises.

Se a segurança é relacionada com as questões de legitimidade, como ser basicamente inhackeável, infraudável e impossível de ser confiscado, aí sim o Bitcoin brilha e cumpre bem o papel de “safe haven”. Como reserva para crises, ainda falta muito.

E não há drama para se fazer aqui, sendo que até mesmo o outro – reconhecido mundialmente como reserva de valor – caiu junto com os mercados no ponto alto do pânico econômico.

Se no futuro o Bitcoin terá alta ou baixa volatilidade, se será adotado em massa ou continuará um ativo de nicho, ou até mesmo se conseguirá cumprir sua função original de moeda de troca, ainda não é possível saber. O que segue intacta é sua confiabilidade, e isso tem um valor inestimável.

Cada Bitcoin que você possui em sua cold wallet segue valendo 1 Bitcoin, independente da crise, independente do pânico dos mercados. Na prática, não existe lugar seguro quando o mundo entra em colapso, quando a economia mostra sinais de desgaste e quando as pessoas entram em pânico.

Ainda há muito caminho para ser visto à frente pelo Bitcoin, caminhos que podem levá-lo à patamares de maior aceitação e estabilidade. São certamente os caminhos que todos nós esperamos e acreditamos que iremos vê-lo percorrer.

Foto de Marcelo Roncate
Foto de Marcelo Roncate O autor:

Redator desde 2019. Entusiasta de tecnologia e criptomoedas.